Coimbra, 17 Jan (Lusa) -- A escritora Teolinda Gersão, vencedora do prémio Literário da Fundação Inês de Castro (FIC) 2008, afirmou hoje que, em Portugal, a Justiça enquanto instituição "não serve" e defendeu "o mais urgentemente possível" um amplo debate nacional.
Teolinda Gersão discursava na Quinta das Lágrimas, em Coimbra, na cerimónia de entrega do prémio que lhe foi atribuído pela autoria do livro de contos "A mulher que prendeu a chuva", onde a Justiça é alvo de crítica social, perante uma assistência onde se encontrava o Bastonário da Ordem dos Advogados.
"A justiça não pertence a ninguém, pertence a todos, e como está é uma espada de cortiça que, na melhor das hipóteses, atinge a carriça, e foi isso que eu tentei dizer num conto do livro que se chama História Antiga", afirmou a autora.
A obra, que reúne 14 contos, integra ainda críticas sociais aos novos métodos do sistema de ensino e a "coisas banais do quotidiano", tendo já sido distinguida com o Prémio Máxima de Literatura 2008.
Natural de Coimbra, Teolinda Gersão é autora de vários livros de ficção, traduzidos em oito línguas, tendo sido galardoada com vários prémios.
Com o valor de 5.000 euros, o Prémio Literário visa distinguir uma obra sobre a temática do mito inesiano, podendo abarcar "temas tão abrangentes como a paixão, a vingança, a tragédia, a razão de Estado ou outros aspectos da representação histórico-cultural portuguesa".
Na mesma cerimónia foi galardoado com o Tributo de Consagração 2008 o poeta António Osório, pela sua obra no todo, "que o tornou um dos nomes incontornáveis da literatura portuguesa contemporânea", refere uma nota da FIC.
Licenciado em Direito, António Osório foi Bastonário da Ordem dos Advogados e iniciou a sua actividade poética em 1972, com a publicação de "A Raiz Afectuosa".
Com livros publicados no Brasil, Espanha, França, Itália e Bélgica, é autor de obras como "Décima Aurora" (1982), "Adão, Eva e o Mais" (1984), a "Casa das Sementes" (2006) e "Vozes Íntimas" (2008).
Na sua intervenção, António Osório lamentou que "a crítica literária seja hoje uma coisa que está quase em vias de extinção" e apelou à defesa da poesia.
"Nós poetas temos que defender a poesia, temos de a servir e impedir que ela seja trucidada", sublinhou o antigo bastonário da Ordem dos Advogados, criticando alguns meios de comunicação social por diminuírem os espaços dedicados à poesia.
A primeira edição do Prémio, em 2007, foi atribuída a Pedro Tamen, pela obra "Analogia dos Dedos", tendo Urbano Tavares Rodrigues recebido o Tributo de Consagração.
Do júri fazem parte Aníbal Pinto de Castro, os escritores Mário Cláudio e Fernando Guimarães e os professores José Carlos Seabra Pereira e Frederico Lourenço.
AMV/AMS.
Lusa/Fim
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