domingo, 18 de janeiro de 2009

Figuras de Bordalo Pinheiro em risco de desaparecer


Cerâmica. Fábrica das Caldas em dificuldades
O possível encerramento da fábrica de cerâmica Bordalo Pinheiro, que atravessa dificuldades e regista salários em atraso, colocará um ponto final à produção das famosas figuras de barro feitas nas Caldas da Rainha, desde 1884.Ontem, uma centena de trabalhadores da fábrica Bordalo Pinheiro manifestou-se pelas ruas da cidade, numa marcha lenta de protesto pela viabilização dos seus postos de trabalho e da unidade industrial.Em declarações à Lusa, José Fernando Sousa, trabalhador e coordenador da União de Sindicatos do distrito de Leiria, explicou que pretendiam "sensibilizar os accionistas a encontrarem uma solução para os problemas, porque acreditamos na viabilização da empresa". A marcha dos trabalhadores culminou com uma concentração à porta da fábrica, onde decorria uma reunião de accionistas da empresa, com vista a encontrar uma saída para a crise, nomeadamente o mês e meio de salários em atraso.Entre estes 150 trabalhadores estão 13 ceramistas, que moldam à mão e pintam meticulosamente, há mais de 20 anos, as peças emblemáticas, desde o Zé Povinho, a velha alcoviteira, a ama das Caldas, o polícia civil, o padre, o sacristão, o saloio e a saloia, as andorinhas, as couves, azulejos, jarras, pratos e muitos animais de vários tamanhos."Os trabalhadores estão a recuperar e a salvaguardar um património que é nacional, sem um único apoio e, neste momento, sem um único tostão", lembrou Elsa Rebelo, técnica de cerâmica da Bordalo Pinheiro.Nos últimos anos foi feito um levantamento pelos trabalhadores do património (só na cave da fábrica estão mais de mil moldes de Rafael Bordalo Pinheiro e do filho Gustavo), inventariando e reproduzindo peças que em 100 anos nunca o haviam sido."Tudo isto demora muito tempo e sem pessoas especializadas como as que temos aqui não vai ser possível salvaguardar o património", alertou a ceramista, acrescentando que faltam ainda recuperar, procurar e investigar muitas peças pequenas.As notícias do eventual encerramento da fábrica levaram, entretanto, a uma corrida às peças que os ceramistas, mesmo sem receber ordenado, estão a esforçar-se por repor. Nas prateleiras da loja da fábrica não há um único Zé Povinho, sendo esperada a reposição do stock desta conhecida peça o mais breve possível. "Tínhamos geralmente duas pessoas na nossa loja, mas no sábado passado estivemos lá sete, por causa dos clientes. Foi uma loucura", lembrou José Ricardo, encarregado-geral da fábrica. LUSA

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