Cientistas americanos continuam a juntar provas para suportar a sua teoria de que a generosidade compensa mais do que o egoísmo, ou seja, são conferidas vantagens evolutivas aos seres com comportamentos altruístas. Na espécie humana, a cooperação e a empatia parecem ser as melhores estratégias para conseguir passar os genes para a geração seguinte.
Apesar da ideia ser relativamente antiga, nunca foi dominante no pensamento sobre evolução das espécies. Ao longo de mais de um século, o ensino da teoria de Charles Darwin colocou a ênfase no mecanismo da selecção natural dos mais aptos. Mas recentemente os biólogos começaram a defender que a generosidade tem um papel muito mais importante na evolução da espécie humana do que a força ou a competição.
O campo dos que defendem a ideia da sobrevivência dos mais generosos tem estado a reunir dados que suportam a sua teoria. Uma equipa de cientistas de Berkeley, nos EUA, publicou os resultados de uma experiência que sugere as vantagens do comportamento altruísta na espécie humana. Outro estudo, virado para o funcionamento do cérebro, encontrou indícios que apontam para a existência de um gene que promove a empatia.
"As nossas crias são muito vulneráveis, por isso uma das tarefas fundamentais da sobrevivência humana e reprodução genética é tomar conta dos outros. Os seres humanos sobreviveram como espécie porque evoluiu a sua capacidade de tratar daqueles que precisavam e de cooperar. Como Darwin uma vez disse, a simpatia é o nosso instinto mais forte", afirmou Dacher Keltner, citado pela publicação online Science Daily. Keltner dirige um instituto de Berkeley que estuda a questão e é autor de um livro influente que defende a "bondade" natural do ser humano.
Um sociólogo de Berkeley, Robb Willer, acaba de publicar os resultados de uma experiência baseada em vários jogos complexos onde foi possível perceber que a generosidade dos jogadores era compensada com mais respeito dos outros jogadores, maior influência no grupo e maior número de presentes. Segundo Willer, os cientistas terão de responder muito menos à questão do porquê das pessoas serem generosas e muito mais a outra, porque são egoístas, pois este comportamento parece à partida não ter tantas vantagens.
Também começam a crescer os indícios de que a empatia implica predisposição genética. Um estudo de Laura Saslow e de Sarina Rodrigues (respectivamente de Berkeley e Oregon) concluiu que uma variação do gene receptor da hormona oxitocina (que estimula o comportamento social e o amor) torna as pessoas mais hábeis na interpretação do estado emocional dos outros humanos.
Estes são dois exemplos de um campo em expansão e que podia estar muito mais implantado se a biologia não se tivesse orientado, durante décadas, para a investigação da selecção natural dos mais aptos e para a competição.
Num artigo de Fevereiro, publicado em Psychology Today, Dacher Keltner lembrava que o conceito de "sobrevivência dos mais aptos" nem sequer é de Darwin, mas resulta da adopção das ideias de Herbert Spencer e dos darwinistas sociais do século XIX. Num dos seus livros, A Origem do Homem, Charles Darwin defendeu que os instintos maternais e sociais eram os mais poderosos.
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