terça-feira, 16 de novembro de 2010

Biblioteca de Lisboa ganha Sala José Saramago

A Biblioteca Municipal de Lisboa, onde José Saramago "se fez escritor", dá hoje à sua maior sala o nome do Nobel da Literatura, quando passam 88 anos sobre o dia em que nasceu.


A cerimónia decorre às 12h30 e é uma das centenas que hoje assinalam em todo o mundo o 88.º aniversário de José Saramago, mas deixa a viúva, Pilar del Rio, emocionada, pois o Palácio Galveias foi "a sua autêntica universidade".

Era nesta biblioteca que ele "ia ler, durante anos e anos na sua juventude, todos os dias, todas as noites porque fazia leituras noturnas, caminhava a pé vários quilómetros, lia, lia, lia", disse Pilar del Rio à Lusa. "Aí se fez escritor. A Biblioteca Municipal de Lisboa foi para Saramago a sua autêntica universidade e é muito emocionante que o Palácio Galveias distinga José Saramago dando o seu nome à sala maior da biblioteca."

86.º aniversário foi momento marcante
Apesar de ser avesso a comemorações marcadas pelo calendário, recorda Pilar, a passagem dos 86 anos foi "especialmente bonita", "absolutamente emocionante e irrepetível".

José Saramago "era um homem que celebrava a vida e a amizade todos os dias, tinha delicadezas impressionantes, diariamente. Gestos carinhosos, beijos na mão, acenos, olhares. Mas não era de seguir calendários nem de seguir os caminhos traçados", recorda a viúva.

Pilar del Rio diz-se confiante em que a Fundação José Saramago possa instalar-se na Casa dos Bicos, em Lisboa, no primeiro aniversário da morte do escritor, a 18 de Junho de 2011

José Sena Goulão/Lusa



Em 2008, a festa foi na casa de Lisboa, onde passavam parte do ano, quando não estavam em Lanzarote (Espanha) ou a viajar. Ao longo da tarde foram passando pessoas "do mundo da cultura, leitores, do mundo da política, amigos de toda a vida e, ao final da noite, quando já só estávamos cinco", a violoncelista Irene Lima, com o vestido que Pilar usou na entrega do Prémio Nobel em 1998, "entrou no escritório onde ele estava a trabalhar e deu-lhe um concerto de violoncelo privado".



Foi a mesma mulher e com o mesmo vestido que interpretou Bach e outras peças no funeral de José Saramago, nos paços do concelho de Lisboa, "porque ele tinha dito que por muitos anos que vivesse jamais esqueceria esse concerto".



Comemorações em todo o mundo





A viúva do escritor assinala que o aniversário está a ser comemorado em todo o mundo de diferentes formas, em particular na iniciativa coordenada pelo Instituto Camões com uma cadeia de leitura em 83 cidades da Europa, África, América e Ásia.



Hoje à noite realiza-se no cinema São Jorge, em Lisboa, a antestreia do documentário "José e Pilar", de Miguel Gonçalves Mendes. Que chega na quinta-feira às salas de cinema.



A edição portuguesa do livro "José Saramago - Nas Suas Palavras", de Jose Gómez Aguilera, foi lançada na segunda-feira e encontra-se já nas livrarias.



Passados cinco meses sobre a morte do marido, a 18 de junho, Pilar del Rio diz que ela e todos os que trabalham na Fundação vivem com José Saramago "dentro" deles. E cita, a propósito, uma frase de Maria Teresa León, a mulher do poeta espanhol Rafael Alberti: "Se os amantes trocam as identidades, chamem-me Rafael porque já não sou Maria Teresa".



Mas contrapõe: "Não digo que sou Saramago porque não sou, sou Pilar del Rio. Mas digo que sou a Fundação José Saramago, trabalhamos nela uma série de pessoas, estamos lá de manhã à noite, às vezes também à noite, trabalhando com o pensamento, as ideias, a finura, a cortesia, a educação, a inteligência, a sensibilidade dele. Sabendo que nunca vamos alcançar a sola do seu sapato, porque ele era demasiado grande e demasiado alto, mas fazendo como se tudo fosse possível."



A jornalista nascida em Espanha, que decidiu pedir a nacionalidade portuguesa após a morte do marido, diz-se confiante em que a Fundação possa instalar-se na Casa dos Bicos, em Lisboa, no primeiro aniversário da morte do escritor. Diante do edifício, ficaram os restos mortais de José Saramago, que tinha desejado passar os últimos anos de vida a ver o Tejo e os barcos da janela da Casa dos Bicos.

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