quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Luisinha

Histórias de José Craveiro

A Luisinha era uma menininha muito bem educadinha, alegre e bem-disposta, mas como todas as crianças também tinha alguns defeitos e um deles era contrariar algumas ordens da mãe.
– Oh Luisinha, nunca vás pela mata! Vais pela rua principal, embora pelo passeio, para que não te aconteça mal nenhum. A mata tem bichos, silvas e roseiras e outros perigos para os quais ainda não estás preparada. Por isso, não te esqueças, sempre pela rua principal!
– Oh mãezinha, a mata é tão bonita, agora no Outono com aquelas folhas a cair, com os passarinhos e toda aquela bicharada a mata é uma caixinha de surpresas!
– Pela mata não! Porque as surpresas podem ser desagradáveis! Imagina que és picada por um bicho venenoso, podes morrer minha filha!
A Luisinha bem prometeu, mas de vez em quando lá vinha ela pela mata e deliciava-se.
Um dia chegou a casa e como de costume merendou, fez os deveres da escola, brincou, ajudou a mãe na cozinha e a noite chegou. Depois de jantar, a mãe foi conversando com ela e às tantas disse:
– Vai-te deitar Luisinha, amanhã tens que te levantar cedo para a escola.
A menina foi para o quarto, deitou-se e passado um bocado ouviu bater na janela do seu quarto que era no primeiro andar.
– Quem é que está aí?
– Abre depressa, vem cá!
Quando a Luisinha abriu a cortina assustou-se, viu uma coruja enorme muito preta que lhe disse:
– Anda, abre a janela!
Ela abriu e a coruja disse:
– Venho convidar-te para ires comigo à mata, há lá uma grande festa para crianças. Muitos doces, rebuçados e chupa-chupas.
-–Não, não, a minha mãe nem de dia me deixa ir à mata, quanto mais agora à noite! Então é que ela me castigava!
– Mas não precisas de lhe dizer, sobes para as minhas costas que eu levo-te à mata. Eu posso bem contigo!
– E a minha mãe?
– Deixa a estar, não lhe digas nada senão ela zanga-se!
A menina saltou para as costas da coruja e lá foram para a mata. À entrada da mata havia muita luz e doces, mas a coruja foi andando mais para diante até que chegou a um sítio escuro onde estava uma velha muito feia com um nariz comprido e muito mal disposta que, quando viu a pequena, deu uma gargalhada sinistra e disse:
– Então sempre vieste!
– A coruja é que me convenceu a vir - diz a miúda assustada - Eu nem queria vir, mas ela nsistiu…
– Não te desculpes, vieste porque quiseste e eu agora vou transformar-te em bicho feio ou árvore velha e seca. Olha à tua volta, todas as árvores secas e bichos feios que vês são meninos como tu que vieram por causa da curiosidade.
– Deixa-me ir embora por favor, a minha mãe fica aflita se dá pela minha falta!
-–Pensasses nisso antes, agora é tarde! Estou tão cansada que nem sei o que hei-de fazer! Árvore velha, bicho feio? Árvore velha, bicho feio? Vou descansar que depois penso melhor!
E a velha adormeceu e a pequena chorava. Então, aparece ali a fada branca que era madrinha da Luisinha e diz-lhe:
– Então Luisinha, desobedeceste à tua mãe!
– A coruja insistiu comigo e eu vim!
–Não te desculpes, diz a fada, és a única culpada! À mãe nunca se desobedece!
No meio de lágrimas, a menina pede:
– Oh madrinha leva-me daqui!
– Aqui quem manda é a velha. Eu sou a fada tua madrinha mas nada posso fazer, só te posso dizer que em todas as situações ser bom quase sempre resolve todos os problemas. Fazermos bem tem sempre a sua recompensa. Pensa nisto, minha filha. A fada foi-se embora e a pequena chorava, chorava… A velha começa a sonhar e dizia:
– Sou tão feia e tão velha que ninguém gosta de mim! A velha repetia isto chorando.
De repente a velha acorda e diz:
– Vamos lá ver, árvore velha ou bicho feio?
A Luisinha lembrou-se do que a madrinha lhe disse, atirou-se ao pescoço da velha e deu-lhe um beijo na cara e a velha zangada disse:
– Que é que estás a fazer miúda?
– Dei-lhe um beijo e agora vou-lhe dar outro!
– Está quieta garota!
– Ainda lhe vou dar outro beijo!
Depois de lhe dar o terceiro beijo, a Luisinha assustou-se porque a velha gritou e ficou transformada numa menina nova e bonita tal qual a Luisinha.
– Oh Luisinha, tu és muito boa, se não fosses tu eu seria sempre velha e feia, porque eu já fui como sou agora, mas dei um pontapé numa velha e um encontrão e a velha caiu, olhou para mim com os olhos pareciam fogo e disse:
– Maldita! Ficarás uma velha mais feia do que eu! Viverás na mata e todas as noites só farás maldades. Por isso, Luisinha, eu transformei tantos meninos em árvores velhas e secas e bichos feios! Vamos desencantá-los?
– Vamos sim, mas como?
– Pula dando uma volta sobre ti mesma e bate as palmas ao mesmo tempo. De cada vez que fizeres isto um menino ou uma menina perderão o encanto.
A Luisinha começou às voltas pulando e batendo palmas e cada árvore velha e bicho feio voltava a ser uma criança. Depois de todos desencantados riram de contentes e quando estavam todos felizes ouviu-se alguém que batia à porta.
– Oh Luisinha, são horas de ir para a escola, filha!
A Luisinha acordou, suava por todos os lados. Afinal, não passava de um pesadelo. Mas o que é certo é que desde esse dia, pedia muitas vezes à mãe para a levar à mata. Mas sozinha nunca mais!
Todo o que desobedece, nunca sabe o que lhe acontece!

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