segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Fresco do século XVI encontrado em capela


Aguiar da Beira, Guarda, 19 Jan (Lusa) - Um painel de frescos com a coroação da Virgem Maria foi encontrado no interior da capela de S. Marcos, na freguesia de Fonte Arcadinha, Aguiar da Beira, disse hoje à Lusa fonte da Diocese de Viseu.
Segundo Fátima Eusébio, historiadora do Departamento de Cultura da Diocese de Viseu, a pintura foi descoberta pelos técnicos que procedem ao restauro do interior da capela, admitindo que possa datar "do século XVI".
"Só depois de limpa poderemos fazer a avaliação mais concreta", adiantou à Lusa, referindo que "é uma descoberta muito interessante pela sua raridade, porque nos séculos XV e XVI era frequente a colocação de pintura fresco para a valorização dos altares".
A historiadora contou que a partir do séc. XVII "esse recurso decorativo caiu em desuso e a maior parte dos frescos desapareceu. Na Diocese de Viseu foram todos retirados, alguns substituídos e só temos dois ou três exemplares desse período".
No caso do fresco encontrado na capela de S. Marcos, em Aguiar da Beira, distrito da Guarda, a historiadora disse tratar-se de "um conjunto interessante porque está praticamente completo no tema central: a coroação da Virgem".
"Está muito sujo mas o tema e as figuras representadas são perfeitamente perceptíveis", explicou, acrescentando que "até é surpreendente a forma como ele se conservou, porque trata-se de uma capela pequenina e a sua raridade dá-lhe um carácter único".
"Tem a Virgem ao centro e, num primeiro registo, é ladeada por dois anjos músicos. Num segundo registo, temos dois anjos voantes que têm a coroa que está posicionada sobre a cabeça da Virgem e, num terceiro registo, surgem representações arquitectónicas", descreveu.
Segundo a responsável, a pintura que terá cerca de 2,5 metros de altura por cerca de dois metros de largura, "é policromática, embora predomine o tom de castanho, mas tem outras cores, nomeadamente o azul, nas vestes da Virgem".
"É uma obra que vai valorizar e enriquecer extraordinariamente o património da Diocese de Viseu e poderá ser mais um interesse [de atracção turística] para Aguiar da Beira", defendeu.
Fátima Eusébio referiu que a pintura denota "uma produção mais provincial mas de uma extrema riqueza", daí que seja necessário "arranjar os recursos financeiros para a limpar e conservar".
A historiadora considerou que "a Diocese não tem recursos para intervir" mas espera que "haja boa vontade por parte da Câmara Municipal de Aguiar da Beira" a quem vai ser solicitado esse apoio.
"A Comissão da capela estará receptiva" à realização de obras de conservação, disse, defendendo que após o estudo e restauro do fresco, o retábulo em madeira deva ser colocado no sítio onde estava "mas deixando o distanciamento necessário para deixar ver aquela obra".
Os trabalhos de restauro da capela de S. Marcos foram iniciados, recentemente, pela empresa de Viana do Castelo - Atelier Samthiago, cujo gerente, Carlos Costa, disse hoje à Lusa que a pintura foi encontrada quando desmontaram o retábulo datado de meados do séc. XVIII, para reforço e consolidação da sua estrutura.
"O altar cobria por completo a pintura", contou, referindo que "não é muito comum encontrar este género de pintura no Norte e Centro. Aparece mais no Sul do país".
"Para a idade que tem encontra-se em bom estado. Acabou por estar 300 anos abrigada pelo altar", observou, referindo que "tem alguns desgastes e algumas bolhas de ar no estuque, mas não é nada que não se resolva facilmente".
Na freguesia de Fonte Arcadinha a descoberta foi recebida com "grande satisfação" pelos habitantes, como contou Manuel Santos, elemento da Fábrica da Igreja local.
"As pessoas nem sabem o valor que aquilo tem mas estão contentes em ver aquilo", disse.
Manuel Santos afirmou que "o povo está todo satisfeito" admitindo que a descoberta "é provável que dê progresso à nossa freguesia".
Manuel Santos adiantou que, na festa de S. Marcos, agendada para dia 25 de Abril, já "gostava de ver as obras concluídas para as pessoas verem a riqueza que ali temos".
ASR.
Lusa/Fim

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